A ALEGRIA DE SER TURISTA, POR UM RESIDENTE DE ASPEN

Havia um grupo de mulheres no topo da pista Long Shot, em Snowmass, em uma recente tarde de sexta-feira. Imaginei que fossem amigas de faculdade em suas férias de verão. Escutei a conversa delas, o que não foi difícil pois elas estavam muito emocionadas, espalhando amor e alegria por todo lado. Acho que haviam ingerido álcool, o que não é muito recomendável em altitudes tão altas, (3.500m) mas pode aliviar o ardor nas bochechas queimadas de sol.

“Tudo bem, meninas,” uma delas anunciou. “Estão todas prontas? Aqui está a última pista de esqui do ano.” Ela ergueu o bastão de esqui e o resto das doze também, formando uma pirâmide de alumínio acima de suas cabeças. Ouvi alguns barulhos e gemidos – não do tipo provocado por um dia de trabalho enfadonho como se eu estivesse sentindo interromper a sanidade ao mexer em boletos e impostos, mas de uma saudade sentimental pela semana que inexplicavelmente havia passado em um piscar de olhos.

É aquela sensação que todos nós conhecemos no final de umas férias especiais, quando não podemos mais negar que dias maravilhosos estavam terminando e quem sabe, nunca mais passar por aqui – e mesmo se o fizermos, essa magia será impossível de reproduzir a mesma emoção. Claro que isso é um absurdo. As próximas férias vão substituir as atuais como “a melhor viagem de todas”, mas não pensamos nisso no momento de dizer “adeus. Preferimos acreditar que atingimos o ápice de nossas vidas em harmonia e tudo está em declive a partir daqui, começando com um voo da United Airlines amanhã de manhã às 7h05.

Felizmente, eu e meu complexo de superioridade local começamos a descer a trilha antes que minhas lágrimas sentimentais secassem. Mas a cena continuou a me assombrar por toda a interminável viagem de volta pelo lift Two Creeks e o caminhar pela Adam Avenue, já de volta ao meu carro, que estava prestes a receber uma multa de estacionamento sob o limpador de para-brisa no estacionamento de volta ao Snowmass Mall.

O que vi no início daquela corrida foi a personificação da ideia de que a exuberância que os visitantes experimentam não pode ser atribuída aos residentes. A verdade é que os turistas provavelmente aproveitam mais uma semana esquiando do que nós em uma temporada inteira.

Em uma análise honesta de qualidade versus quantidade, eles obtêm a melhor dose de entusiasmo. Eles vêm e esquecem tudo por um tempo, concentrando-se totalmente em aproveitar cada segundo. Já, nós, saímos quando podemos, observando o relógio, pressionados a dar o máximo de voltas que pudermos antes que seja hora de voltar e continuar fazendo sempre do mesmo até agora: pagar a hipoteca e economizar para a educação universitária dos filhos.

Sim, nós locais, adoramos esquiar. Investimos muito em equipamentos. Até criamos estilos de vida e abastecemos as prateleiras das bibliotecas mentais com livros fantásticos. Mas não somos inspirados por uma voz interior que diz: “Vá, você tem uma semana. Vá em frente!”

Não me interpretem mal: eu adoro esquiar. Eu não fico entediado, mas tenho que dosar o tempo de esquiar para preservar meu entusiasmo. Não me atrevo a estabelecer uma meta para o número de dias que vou esquiar na temporada. A esta altura da minha vida esquiando, receio que atribuir qualquer indício de obrigação não vai me fazer bem. Desejo puro é o desejo com motivação. O entusiasmo pelo esqui, como qualquer outra coisa, não é ilimitado.

Adolescentes e turistas duvidam disso, mas, se você realmente quer ser um esquiador, é preciso equilibrar essa vontade e entusiasmo pelo número de anos que deseja continuar esquiando. Você deve saber quando esquiar começa a parecer mais um hábito do que um evento. Não devemos nos esgotar. Ou então você reza para que seus joelhos sejam geneticamente fortes.

Roger Marolt sabe que os turistas estão tristes no último dia de esqui das férias. Mas também que eles, residentes, vivem em uma grande festa durante toda uma temporada de inverno.

Sobre Roger Marolt – Por mais de 30 anos, sua família serve à comunidade de Aspen. Como mineiros, fazendeiros, esquiadores e contadores, tem o compromisso de manter viva a tradição da cidade. Quando não estão no escritório, podem ser encontrados explorando uma montanha. São esquiadores, ciclistas, caminhantes e montanhistas apaixonados. Adoram poder morar e trabalhar em um lugar que lhes permite fazer tudo! (fonte: Aspen Times)

30 de março de 2021, por Equipe ExpoSKI