Valle Nevado, maior centro de esqui do Chile, vinculado aos grupos Senerman e Ergas desde o final da década de 1990, encerrou com sucesso o processo de subscrição de financiamentos iniciado em 12 de abril de 2020, no âmbito de sua recuperação judicial. Os acionistas – principalmente os Senermans, que já haviam injetado recursos para 65 mil UF (Unidade de Fomento do Peso Chileno) no processo de reestruturação iniciado em novembro passado, contribuíram com outros 78 mil UF – cerca de US $ 3,2 milhões- comprometidos para essa etapa. Isso, somado ao financiamento garantido que será fornecido pelos credores Penta, Metlife, Principal, BCI, Scotiabank, Banco Security e Tanner, permitirá chegar a cerca de 300 mil UF – US $ 12,5 milhões de capital para financiar a operação de médio e curto prazo. Valle Nevado tem dívidas de US $ 34,5 bilhões.

Uma das novidades relevantes da reorganização é que o único controlador de Valle Nevado será o grupo Senerman.

O grupo Senerman é comandado pelo arquiteto e empresário Abraham Senerman, criador dos renomados edifícios de escritórios em Santiago, tendo como ícone a torre Titanium. Também à frente está seu filho, Ricardo Senerman, que assumiu a presidência do Valle Nevado e comenta abaixo, sobre essa nova etapa e o processo de reorganização aprovado neste mês.

EM – Como você vive o atual momento, após a aprovação do processo de reorganização de Valle Nevado?

RS – Com imensa satisfação. Mais de 98% dos credores, a quem agradecemos o apoio, votaram a favor da nossa proposta, o que mostra a confiança que existe em Valle Nevado e em todos nós que apoiamos a empresa. Estes meses têm sido um período muito difícil, mas, felizmente, conseguimos chegar a acordos positivos, o que torna possível ver o futuro com muito otimismo. Valle Nevado seguirá sendo Valle Nevado, o maior centro de esqui do hemisfério sul. Acreditamos em Valle Nevado. E por isso, como grupo, assumimos o controle total da empresa. Aproveito para destacar a contribuição do Alejandro Ergas, que colaborou e foi importante para fechar com sucesso o processo de reorganização, assim como os executivos, trabalhadores, equipes jurídicas e financeiras.

EM – Como você vai pagar por essas contribuições recentes?

RS – Faremos isso com nossos próprios recursos.

EM – Qual é o saldo desse negócio para a família Senerman, que entrou em 1997 com o grupo Ergas?

RS – Certamente não aquele que desejaríamos. O turismo, a hotelaria e o esqui tiveram dois anos catastróficos. Primeiro, a pior seca dos últimos anos e segundo, o surto social e a pandemia. No entanto, nós não podemos medir tudo economicamente ou nos últimos anos. Foi um projeto maravilhoso, com natureza privilegiada e a neve que ajudou a posicionar o Chile como um destino turístico fantástico.

EM – Quanto custava Valle Nevado naquela data de 1997? E quanto custa hoje?

RS – Há 20 anos, compramos por um preço que parecia razoável. Hoje, diante da crise pandêmica global, seu valor foi afetado, mas é por isso que vamos arriscar tudo nos próximos anos. Natureza e o turismo de montanha vai crescer muito mais que o tradicional. Nosso país está muito bem posicionado e Valle Nevado ainda melhor.

EM – Quanto a família Senerman investiu sozinha ou em conjunto com Ergas no Valle Nevado?

RS – Investimos quantias muito significativas. Entre os projetos mais emblemáticos que nos permitiram ter uma infraestrutura única estão um moderno sistema de fabricação de neve, a única cadeira quádrupla de alta velocidade e a única gôndola da indústria da neve no Chile, uma estação de tratamento de esgoto e área para visitação diurna com estacionamentos e modernos serviços, entre outros. Além do desenvolvimento imobiliário de dez prédios de apartamentos.

EM – Qual é o futuro de Valle Nevado? Somente em 2025 as dívidas seriam pagas. Até essa data haverá novos investimentos?

RS – Não se trata de hoje versus cinco anos, trata-se de manter uma proposta de valor de qualidade, com o nível de excelência que nos caracteriza e potenciar as vantagens que temos e que são únicas, como a melhor neve e uma ótima infraestrutura. Para isso, faremos os investimentos necessários que permitam continuar a manter nosso prestígio internacional e o nível que temos.

EM – Qual é o impacto da pandemia e como você projeta a próxima temporada?

RS – O impacto da pandemia é enorme, mas não só para Valle Nevado, é para o país. Estamos trabalhando para ter o melhor inverno possível.

EM – Você perdeu apoio ou flexibilidade das autoridades para operar em uma pandemia?

RS – Sim, nosso setor, um dos mais atingidos pela pandemia, é estratégico para o país. As oportunidades da natureza, do turismo ecológico e sustentável são uma grande força no mundo e o Chile tem grandes oportunidades, mas esse setor não está recebendo ajuda de longo prazo do qual todos nós precisamos.

EM – A situação de Valle Nevado afetou você em seus outros negócios imobiliários?

RS – São empresas totalmente independentes.

EM – E como vão os negócios imobiliários?

RS – Existem dificuldades significativas por conta da pandemia e das restrições sanitárias. O mais complexo é parar as obras por causa das quarentenas e, também, em alguns casos por falta de matéria-prima, dadas as dificuldades de transporte. Aproveito a oportunidade para agradecer a todos aqueles que acreditaram e confiaram em nós. É um esforço que faremos como uma família comprometida com seus projetos. Somos gratos que diferentes que diferentes stakeholders tenham percebido isso. Faremos os investimentos necessários que nos permitirão continuar a manter nosso prestígio internacional e o nível que sempre tivemos. (Fonte: El Mercurio)

Ricardo Senerman, presidente de Valle Nevado